Desvendando o Focusing

O que é Focalização?

Focalização é um caminho de escuta e percepção de uma dimensão sutil da experiência vivida das pessoas que se manifesta corporalmente. É um método que busca facilitar o acesso a um processo natural que algumas pessoas, por conta de suas culturas, acabam desenvolvendo mais do que outras pessoas.  Esse caminho foi criado por Eugene Gendlin. Ele desenvolveu esse método através da observação de sessões de psicoterapia que foram gravadas. Ele visava compreender o que gerava real transformação no processo terapêutico. Ele observou que algumas pessoas conseguiam acessar internamente e transmitir em suas palavras uma espécie de “fluxo experiencial”, que comunicava como a pessoa se sentia realmente em sua situação de vida. Pois muitas vezes no processo terapeutico ela não era capaz de acessar realmente como se sentia e isso acabava fazendo com que ela falasse simplesmente de racionalizações e não daquilo que realmente se passava com ela. Mas porque? ela não aprendeu a perceber o que se passava efetivamente com ela. Era como se não conseguisse peceber uma parte importante de suas vivências e por isso não conseguia comunicá-las. Isso inclusive poderia gerar nela um profundo sentimento de solidão. 

Gendlin denominou esse fluxo experiencial de felt sense, um fluxo que  transmite como a pessoa realmente se sente por dentro de si em determinadas situações de sua vida. Ele observou que a observa’ão delicada e criteriosa da experiencia sentida no corpo facilita muito o acesso a esse fluo. Gendlin também observou que esse fluxo sutil, muitas vezes inascessado, porém sentido no corpo, quando escutado e contactado, apresenta novidades e que a pessoa ao escutá-lo (no significado que ele comunica sutilmente), vive verdadeiros processos de transformação. Comprovou também que em casos de sucesso em psicoterapia as pessoas se remetiam a esse fluxo.

Ele então explicitou a maneira que nós naturalmente realizamos esse processo que muitas vezes se dá de forma restrita, inconsciente e intuitiva. 

A focalização é a evidenciação dessa dinâmica, eis o porque ela não é apenas uma técnica, mas a explicitação de um processo humano. Quem a realiza como técnica, ainda não entendeu bem o seu verdadeiro sentido.

A focalização é uma forma de percebermos em profundidade como as coisas nos tocam. É um recurso que permite a pessoa silenciar, fazer uma pausa, um profundo ato reflexivo e, então, conseguir acessar aqueles aspectos pessoais que os ruídos da mente acelerada do dia a dia acabam impedindo.

Guilherme Wykrota Tostes (Ph.D.)

Conhecendo e Vivenciando a Focalização

Assista a esta aula completa com o Prof. Guilherme Tostes e compreenda profundamente o que é a Focalização.

A História da Focalização

Em 1953, Eugene Gendlin juntou-se ao grupo de Carl Rogers no Centro de Aconselhamento da Universidade de Chicago. Naquela época, ele estava concluindo seu doutorado em filosofia e sua fascinação centrava-se em entender como simbolizamos nossas experiências e a relação entre essas experiências e os símbolos que utilizamos para expressá-las.

Gendlin foi profundamente influenciado por Richard McKeon, um filósofo que defendia que existem diferentes maneiras de conceituar nossa experiência. McKeon acreditava que o mundo não vem pré-dividido em categorias naturais; nossas formas de pensar e viver desempenham um papel fundamental na formação de nossa percepção do mundo. Embora concordasse com essa visão, Gendlin acreditava que algumas maneiras de conceituar são mais frutíferas do que outras, levando a um progresso maior no entendimento. Essa visão seria essencial para o desenvolvimento de sua teoria da psicoterapia.

Eugene Gendlin e Carl Rogers

Durante os anos 1950, Gendlin encontrou o trabalho de Carl Rogers, cujas ideias sobre a importância da experiência subjetiva e da autenticidade no processo terapêutico ressoaram profundamente com ele. Rogers enfatizava que a terapia deveria focar na experiência interna do cliente, algo que Gendlin achou revolucionário e que ajudou a moldar suas próprias teorias. Este encontro de mentes entre filosofia e psicologia humanista ajudou a pavimentar o caminho para a criação da Psicoterapia Orientada à Focalização.

Ao integrar-se ao Centro de Aconselhamento da Universidade de Chicago, Gendlin interessou-se pela terapia não-diretiva de Rogers. Ele se envolveu em pesquisas que indicavam que o sucesso terapêutico podia ser previsto desde as primeiras sessões, dependendo da personalidade do cliente e de como ele se relacionava com sua própria experiência. Esse insight levou Gendlin a compreender a importância de como o cliente se envolve com sua experiência imediata durante a terapia, o que seria um ponto crucial em seus estudos futuros.

O contato real com a experiência no próprio processo terapêutico

Em 1960, Gendlin, juntamente com Richard Jenney e John Shlien, realizou um estudo para examinar o papel do relacionamento entre conselheiro e cliente no processo terapêutico. Eles descobriram que não era apenas o foco no relacionamento que importava, mas sim se o cliente estava engajado em sua própria experiência imediata. Esse estudo destacou a diferença entre falar sobre sentimentos e expressá-los vividamente, mostrando que a expressão imediata e detalhada dos sentimentos era mais eficaz para o progresso terapêutico.

Esses achados foram complementados por estudos que Gendlin conduziu com Fred Zimring, onde desenvolveram uma Escala de Processo para medir o grau em que os clientes se referem diretamente à sua própria experiência. Essa escala foi utilizada no grande estudo de Wisconsin sobre esquizofrenia e refinada como a Escala de Experiência.

Durante esse período, Rogers desenvolveu suas ideias sobre as condições necessárias e suficientes para a mudança terapêutica, que incluíam genuinidade, empatia e aceitação incondicional por parte do terapeuta.

Rogers apresentou um documento em 1957 que articulava essas condições e revisou suas ideias em 1958, destacando a importância dos momentos de movimento e a transição do cliente de uma fixação rígida para um estado de fluxo e processo contínuo. Ele distinguiu entre o processo experiencial de mudança no cliente e as condições que facilitam essa mudança, influenciado pelos trabalhos de Gendlin, Kirtner e Zimring.

Terapia centrada no cliente e focalização

Com a teoria de Rogers e as descobertas de Gendlin, ficou claro que a terapia centrada no cliente tinha um impacto significativo quando as condições corretas estavam presentes. No entanto, Gendlin percebeu que a terapia também precisava considerar o estado inicial do cliente. Ele acreditava que, para muitos distúrbios psicológicos, era crucial que o cliente direcionasse sua atenção para sua própria experiência imediata, o que poderia ser facilitado através do procedimento de “focalização”.

No projeto Wisconsin, um dos maiores esforços para testar uma teoria em psicoterapia, Gendlin e sua equipe enfrentaram muitos desafios. Os resultados mostraram que, embora não houvesse uma correlação direta entre as atitudes do terapeuta e o nível de processo dos clientes, a presença de empatia, congruência e aceitação incondicional era essencial para não bloquear o processo terapêutico.

Após o Projeto Wisconsin, Gendlin refinou suas ideias e desenvolveu a psicoterapia orientada para o foco. Ele enfatizou a importância da expressão e desenvolvimento da experiência implícita do cliente, vendo isso como central para a psicoterapia. Sua abordagem destacava que a experiência humana tem uma complexidade rica que só pode ser parcialmente capturada em palavras ou conceitos, mas que permanecer com a experiência permite que palavras e símbolos surgissem, tornando-a comunicável.

Essa abordagem terapêutica, baseada na articulação da experiência implícita, ajudou a moldar a prática da psicoterapia de Gendlin. Ele acreditava que a eficácia da terapia dependia da capacidade do cliente de liberar processos bloqueados e permitir que novos significados emergissem de suas experiências imediatas.

Focalização no Mundo

A disseminação mundial do Focusing foi facilitada pelo The International Focusing Institute, organização criada por Eugene Gendlin. Este instituto, criado em 1986, é uma instituição sem fins lucrativos para disseminação da Focalização no mundo. Define-se como uma organização internacional transcultural dedicada a apoiar indivíduos e grupos em todo o mundo que estão praticando, ensinando e desenvolvendo a Focalização e sua filosofia subjacente. A Focalização Brasil está vinculada ao TIFI por meio do Focusing Coordinator Guilherme Tostes que é conselheiro do International Leadership Council.

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